Corponopixel


Chuva forte desaguando de um céu negro que parecia ruir sobre minha cabeça, correria de uma marquise à outra na tentativa de ser menos vitimado pela torrente, depois de algumas quadras, tropeços e infindáveis palavrões lá estava eu em meu lar.

Olhando ao redor senti-me um pouco mais seguro, havia um que de vazio, não sabia se em mim ou apenas na casa, quem sabe em ambos?

Mas de qualquer forma estava em meu lar, com seus quadros imaginários pintados de sonhos que hoje estão a se desbotar, a sala sem móveis, a condenável bagunça na cozinha, o de sempre.

Uma xícara de café, o alento básico dos solitários, roupa trocada, uma olhada rápida nas contas a enfeitar a porta de minha geladeira, o desânimo em saber que mais aquele mês me será difícil.

No quarto os cobertores espalhados contam histórias, já foram mais quentes em noites que pareciam mais frias, hoje o inverno e os cobertores me são indiferentes.

Sento-me à frente de meu computador, digito alguma coisa... lá vou eu, num mundo diferente, onde eu sou belo, bem sucedido e garboso, um mundo de frases de efeito e diálogos copiados, um universo de respostas inteligentes extraídas do google.

Nesse mundo me perco, me fascino, nesse mundo tudo posso, sem nada perder. Amanhã? Quem se importa?Amanhã voltarei para os corpos de carne, frágeis, fúteis, ferrados...como o meu. Mas hoje....

Hoje eu sou um dos milhões de reis, de seres especiais que buscam afagos eletrônicos nos corredores cibernéticos, entupidos como veias adiposas.
Mas cujo sangue tem sabor sempre doce!

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