Meu campo de sonhos


Lembro-me quando todas as noites eu adentrava aquele quarto escuro em ansiedade nervosa, os cobertores quentes, a colcha sempre cheirosa, alguns minutos de leitura distraída até ser vitimado pelo conteúdo da algibeira de Morpheus.

E como sempre o meu refúgio estava lá, sob um céu de Aurora Bureau, me sorria um campo que ia ao infinito, florido de sonhos que gentis esperavam que começasse minha colheita, ao que eu, obviamente não me fazia de rogado.

Munido de um cesto lá ia eu atravessando aquele vasto campo de sonhos, colhendo cuidadosamente aqueles que melhor me aprouvessem, qual um cinéfilo inveterado eu escolhia sonhos diversos, e para meu deleite sempre encontrava o que queria, após a colheita eu sentava-me e os admirava fascinado, sem saber de qual deles deveria usufruir primeiro, eram tantos e tão belos, um bálsamo, um elixir que me rejuvesnecia a cada dia.

Como era ruim voltar à realidade, caminhar entre os vivos num mundo que não era o meu, pessoas apressadas e mal educadas, preguiçosos, glutões e seres carregados de vulgaridades de toda espécie, as horas diurnas eram um transtorno que eu só poderia suportar graças aos meus sonhos colhidos com esmero por todas as noites.

Não demorou muito para que viesse a chuva e a tempestade, durante alguns dias meu campo de sonhar parecia fugir, as passagens ficaram estreitas e doloridas, eu me perguntava o que havia.

A resposta vinha num ressonar abafado que me fazia lembrar de uma máquina ou algo assim, assustado fui forçando minha passagem de volta.

Ferido, faminto e cansado consegui voltar ao meu amado campo de sonhar, esperava fazer uma doce e reparadora colheita, revigorar-me daqueles dias tão duros, já abria o sorriso quando aterradoramente vi minha plantação de sonhos devastada, agonizando ao chão e pedindo por socorro, ao longe um grande objeto de aparência metálica desaparecia no horizonte.

Sua gargalhada me atingiu como uma bala certeira!

Caído, sangrando eu me arrastei para junto de meus sonhos que jaziam, abracei-me a eles, jurei-lhes que ainda haveríamos de ressucitar, juntos, dei-lhes parte de meu sangue na esperança de não vê-los perecer.

Sei que ainda devo retornar , mas não posso deixá-los aqui à sua própria sorte, certamente eles morrerão amargamente.
E eu morrerei entre os vivos!

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