Bonecos


Bonecos caminham entre humanos.
Saídos de fábrica já com todos os acessórios, roupas e objetos variados.
Mas o que mais os caracteriza são seus sorrisos, criados em formas especiais com moldes diversos, essas criaturas embalsamadas na cordialidade de um sorriso, jamais estão de outra maneira, não importando o que se passa em seus plastificados corações.
Pobres bonecos.
Eles amam?
Sim de fato eles amam, de uma forma incompreensível até mesmo para eles, mas os sentimentos explodem em seus peitos endurecidos pela resina, onde não se vê nem mesmo o respirar vital do prana que é tão caro a todos.
No início são divertidos e atraentes, como uma novidade nas mãos de qualquer criança, com o tempo tornam-se torpes, inanimados e sombrios, caem pelos cantos onde o pó começa-lhes a fazer o cortejo, nas noites, a solidão aproxima-se com olhos em fogo, e eles temem, sentem a garganta contraindo-se e choram, sem ninguém ver, pois seus imutáveis sorrisos jamais os abandonam.
A vida caminha, o tempo se esvai, estes seres empalhados na alegria arrastam-se pelas esquinas recebendo por vezes gentis cumprimentos dos transeuntes, sempre impressionados com seus belos sorrisos, que resistem às maiores adversidades, sorrisos de dor que esperam uma morte rápida, seja num automóvel cruel a passar-lhes por cima, em cães vagabundos a despedaçar uma carcaça carcomida ou males urbanos de toda espécie.
Mas as maiores possibilidades sempre giram em torno da morte lenta, espinhosa e doente, na craquelura torturante das intempéries daquilo que chamamos de crescimento, que matam nossos anjos tão docemente cultivados por sonhos.
Mas que ainda mantém nossos plastificados sorrisos.

Comments

tico litlle said…
take walk the wild side man..
Dani Moscatelli said…
Oi Docca, voltei pra vida de blogueira!

Estou adicionando você entre os meus blogs favoritos!

Beijos =*

Dani
Anonymous said…
Saudades dos teus poemas, poeta. Não escreve mais?

Beijos da sua Anônima

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